Poema belíssimo do poeta piauiense Rodrigo M
Leite.
Sem palavras.....
/////////
diário da viagem
entre os municípios de
Uruçuí – Piauí e Nova
Iorque – Maranhão / Praia do Caju
árvores secas e sem folhas são vasos
sanguíneos do sistema agreste, fossilizadas no ar quente não servem de sombra
para o gado magro elegante / próximos a ponte sobre o intermitente Riacho
Coroatá sem água, bodes realizam rituais – méééé, méééé - danças ma-cabras
sobre o asfalto enquanto os autos desviam furiosos e as crianças acenam
encantadas / sinais de fumaça atravessam a palhoça com paredes de taipas ao pé
do morro, brota do chãoácidovermelho labigós sujas de fogo, apressadas com
mensagens de guerras – eternamente desconhecidas – para os escorpiões
cintilantes / ponte-sobre-o-Riacho-Quati, Riacho Quati: uma poça d’água
amarelada, espelho para visões e presságios eu-líricos: a substância líquida
pura, argila manhosa da criação / temido homem regional, Billy João demarca o
verso das placas solitárias da estrada vazia com iniciais de seu nome, espanta
dessa forma os fantasmas que o perseguem, escreve um poema inédito /
torrãochapado-no-cerrado, afronta abutres que campeiam em círculos, viciosos
círculos em ruínas / cachorros-baleia abandonados
no acostamento,
cactos nem aí
sorvendo balas de café e veios de
claridade excessiva, vão-se os animais esqueléticos as áridas visões a cultura
sub-subsistente, entram imensas fazendas de grãos: a vasta vista do sem fim:
ansiedade na região que mais cresce no país / quando o campo dobalino
imaginado, reapareceu àquela margem: estio vazio / pastavam os bois que
rarejavam, ...que rarejavam, introspectos na paisagem igual os homens em suas
colhedeiras – raivosas máquinas vorazes / seres perdidos no horizonte profundo,
felizes / seguíamos por uma estrada que não provocava dúvidas: era reta,
repetida / grão grão grão céu cerrado grão grão grão céu cerrado grão grão grão
céu cerrado / sons obsoletos de sedução pipocavam do toca-fitas empoeirado
áudio track: on the beach, neil young
Praia do Caju da fruta das águas dos
sonhos doces, o Rio Parnaíba sem margens estabelecidas, o corpo sem pressa
depositado no vai-mas-vem das ondas / repouso na jangada alheia (a embarcação
delírio) uma moldura: cadentes, estrelas, salientes, o céu penetra nas águas,
envoltos no breu noturno-profundo, homens embriagados névoa – gritos, pelados,
despreocupados, pedidos realizados quando os riscos no alto vislumbrados /
[...] a noite freme sem pressa [...] / criaturas fodem entre árvores, sombras,
frutíferas, visagens / à margem de um mar de águas doces amanhecemos
descampados de obrigações / não há sal em meu íntimo, apenas açúcar
//////////////////////////////////
Entre em contato e leia
mais Rodrigo M Leite no :
Atmosfera Cerrado / Piauí Sul Experiências
Parabéns, Rodrigo. Você já é um dos melhores poetas do PI e do BR.
ResponderExcluir