Nostalgia
Eles cresceram
juntos na mesma vila. Quando eram pequenos, quase não se viam. Na adolescência,
se amaram. Primeiro amor de ambos. Naquela época, ela escolheu ir para a
capital, ele decidiu ajudar o pai na roça. Ela se fez profissionalmente e amou
muitos. No entanto, estava perto dos 40 e não tinha filhos. Ele casou aos 22,
porque engravidou a filha do vizinho da roça onde morava. Teve seis filhos. Aos
quarenta, amava a família e fazia questão de não sair das terras herdadas do
seu pai. Ela, para variar e aliviar as ideias, ia para a Europa quando era
inverno por aqui. Não há nada melhor para a alma que o verão de Paris e as ruas
de Mônaco. Ela afirmava às amigas de sua terra natal, que sempre reencontrava
quando ia visitar sua família. Ele soube que ela andava pela cidade, mas nunca
quis procurá-la. Ela anda de marca, carro importado, parece uma atriz da TV, eu
estou careca e gordo, cheio de filhos para cuidar. Não quero problema para
minha família e para minha cabeça. Ele afirmava aos amigos. Um dos seus amigos
lhe disse: ela continua linda! Ele balançou a cabeça positivamente e disse:
disso eu tenho certeza. Beleza como aquela nunca se acaba. Até porque os olhos
nunca mudam e a beleza está na alma. Apesar de morar na roça, sempre gostou de
ler, era culto. Ela, já mais fashion, adora festivais de cinema internacionais,
visita feiras de literatura pelo Brasil e mundo, e sempre volta desses lugares
com pacotes de compras. Adora os corredores de vitrines da última moda mundial
em Nova York, Sidney, Londres, Dubai, etc.
Com 87 anos, ele
já não tinha mais a roça. Seus filhos e netos internaram-lhe em uma casa de
velhos. Era assim que ele chamava aquele lugar. Ela, depois de dois casamentos
frustrados e ainda sem filhos, voltou para a sua terra natal e se internou
nesse abrigo para idosos. Lá, pelo menos vou ter companhia. Ela diz, pensando
em sair da solidão que é a vida perto dos 90 anos. Na primeira semana, eles se
viram, mas não se falaram. Na segunda semana, com atitude dele, pois os olhos
dela ainda eram os mesmos, sentou-se ao seu lado no almoço em grupo.
_Eu lembro-me de
ti.
Ela sorriu e não
negou também lembrar-se dele.
Depois desse dia,
tornaram-se companheiros inseparáveis. A melhor hora do dia era quando
passeavam pelo jardim de mãos dadas sob as luzes do sol invadiam as brechas das
plantas das árvores. Todas as manhãs, ele fazia o café dela. Durante a noite,
quando tinham que se separar, falavam de como era bom aquele passado. Um dia,
ela descobriu que podia pagar uma quantia a mais para poder dormir com ele.
Ele, à antiga, pagou para que isso acontecesse. Agora, todas as noites eles
dormem juntos e se deliciam nos cheiros e toques trocados. O amor acontecia
ali, enquanto a vida pulsava naquele eterno momento.
Depois de alguns
meses de reencontro, ele faleceu. Ela, no jardim do abrigo, depois de dois
dias, sorria sozinha com o suéter do seu amado, sentindo o cheiro doce na peça
de roupa e a nostalgia que batia em seu coração. Apaixonada novamente pela
vida, pensava qual seria o próximo destino na Europa.
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Este conto pertence a história "Amores e Acasos". História que tem cinco contos curtos.
Leia mais contos do livro aqui:
http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/imagineonline
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