terça-feira, 30 de junho de 2015

Poema 'Concurso de beleza'



Concurso de beleza

Se existisse
um concurso da beleza
que mais agita a firmeza
das batidas
dum coração solitário
que rompe o silêncio
batendo forte e calado,
a beleza que mais arregala
pupilas castanhas
criando tensões dignas
até às entranhas
no entusiasmo e no surto
dentro dum ônibus público
ao entardecer
duma sexta a tarde.

Você ganharia.

domingo, 21 de junho de 2015

Para Tony



Fim de tarde caramelada
Para Tony

Num fim de tarde
que não tarda, arde
uma tristeza em febril firmeza
que não parece, mas sabe
paira em desarmas e entraves.
O sol desce sem alarde
como crônica sem mecânica
todo saudade e amor
armando seu caminho
para se pôr.
É sua forma de amar a descida
sem precisar flutuar.
Sol só precisa amarelar e
estrelar cheio de luz e vida.
O cachorro corre dum lado
pro outro, late.
Corre como se quisesse
alcançar a verdade.
Uiva, bate-se nos cactos
suspensos do jardim
extenso, intenso
em nós sem fim.
Reluz de sua pele marrom
cheirosa
uma luz neon
e acintosa
espalhando ritmo e som.
Ele vem ao meu lado
como se fosse falar algo
e entendesse cada passo
de meu cadafalso.
Mas não fala e não late.
Seus olhos são mel
dedicado e delicado.
Sentado, cão e educado
respirando e intacto
compassadamente
sem conspiração, ele fala
sem qualquer artimanha
ou máscara.
Sonoras notas solares
confluem beleza
o sol e meu ouvido percebem
a sua voz vermelha.
E, no fim da tarde caramelada
conversamos infindos.



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Muitas saudades do meu amado cachorro, Tony Jah.

 

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Poema - A batalha



A batalha

Ninguém me deu diploma
ou estimulou dizendo:
vai e seja poeta.

Eu não fiz nenhum concurso público
ou testes sociais
nem pedir sina para bondosas fadas.
Não me deram licença patenteada.
na verdade até me empatam.

Eu apenas sou.
Como o sol queima fogo
e o universo sonora mistério.

De verso e versos
estou feroz.

domingo, 7 de junho de 2015

Meu bem - poema inédito



Meu bem

Antes de ir, não esqueça
meu último riso
sobre a mesa.
E leve com você
por esse mundo fadado
aquele forte abraço.
Guarde um cantinho em sua mala
para o que deu certo, o que deu errado.
Toda bagagem fala
o que toda lembrança grita.
O cachorro fica.
Por favor, retire-se dos meus costumes.
Não esqueça seus perfumes
e leve também sua pele
dona do cheiro
cura da febre.
Antes de ir
não se arrependa do se
que escolheu para si.
Meu bem, não esqueça
o que deu certo, o que deu errado
sobre a mesa.
Não esqueça
meu bem sobre a mesa.
Antes de ir, não esqueça
meus últimos versos
sobre a mesa.

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