sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O inventor - poema do livro 'O outro lado do olho'

O inventor

Jesus
transformou água em vinho
por isso peço
um brinde
        e um viva...

VIVA!VIVO!VIDA!
VIVER!VÍCIO!VIVA!REVIVO!
REVIVADA!SIGA!IDA!VIVA!
VIDAMOS!VIVO!A!VIVA!
VIDAVIVA

VIVA!

Ao inventor do vinho:

Jesus.


//////////////////////



Leia o livro completo online e faça o download, copiando e colando o link abaixo no seu navegador:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ooutroladodoolhoonline

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Seus olhos - poema do livro 'O outro lado do olho'

Seus olhos



Você tem olhos diamante
De amante

Dinamite

TNT
Te
Te
T
            TesãO

Quero te Ter.


///////////////////




Para ler o livro completo, copie e cole o link abaixo no seu navegador:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ooutroladodoolhoonline

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Poema boca - poema inédito

Poema boca

Eterno. Escuro. Manto. Madrugada
minando raios vem alvorada.
Cantas línguas nos olhos
no silêncio entorpecido próprio.
Para um sono longo
venha como  um pedaço
saída, outro pedaço descanso
pedaço poema boca, sequência.




//////////////////////




domingo, 23 de fevereiro de 2014

Puxe todas as intenções - - poema inédito

Puxe todas as intenções

Usando de fibrilações
Puxe todas as intenções
E vibres fibras ações
Nas pétalas que procrastina na pele
Azul do céu que admira o silêncio sem véu
Levado por um vento, que antes foi tufão
E bem antes do antes só era imaginação
Num sonho de uma criança feliz
Por que comeu se lambuzando o doce
Algodão e maçã verde
Que eram colhidas em algum lugar ao sul
Muito mais ao sul de qualquer amor ou sede
Pois os amores estão além dos extremos
E da certeza, rasgando tudo com dentes de gozo e fome
Olhar de mãe e glória, jeito de pai e derrota.

Aqui arde o amor
Onde o impulso me cruzou
Ditando a vida como maior professor
Nessa morada, labirinto para perdidos
Que procuram suas histórias, aflitos
Ou, simplesmente, fardos
Depende de onde encaminha seu campo de visão
Ou para onde direciona seu ardo
Esse andar que vai sem parar, pelo chão
Nada incauto.

Pode ser sempre mais
E claro como água
E cheiro como a luz
Mas as forças te levam a ser pó como fumaça
E espesso como cinza
Lágrimas e sorrisos são notas musicais
Poemas e músicas são as pinturas
Dessas notas abissais.

Puxe todas as intenções
Elas estão como cães.

  

///////////////

Poema inédito 


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Nós de novo - poema do livro 'O outro lado do olho'

Nós de novo


Bucho no bucho e um formigamento entre as coxas.

///////////////////////////////////////////////




Para ler o livro completo, copie e cole o link abaixo:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ooutroladodoolhoonline

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Arte PlásTica - poema do livro 'O outro lado do olho'

Arte PlásTica


 a b c d e f g h i  j k l m n o p q r s t u v x y w z z w y x v u t s r q p o n m l k j i h     g f e d c b a -a -b -c - d -e -f -g -h -i
-j  -k  -l -m  -n -o -p -q -r -s  -t    -u           -v        -x        -y        -w       -z        +z       +w           +y  +x       +v             +u       +t        +s       +r        +q       +p          +o   
+n       +m      +l        +k       +i        +h       +g
+f          +e     +d       +c       +b       +a      
c           o         n          t             i         n          u         
a          n          u          a          a          lua    
a          z          u          l           c          o          n            t         i           n          u          a          n          u          a          a              .        

.           .


////////////////


Para ler o livro por inteiro online, copie e cole o link abaixo na caixa do seu navegador:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ooutroladodoolhoonline

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Amor Muito Amor - poema do livro 'O outro lado do olho'

Amor Muito Amor

Amor Muito Amor
Amor Muito Amor
Amor Muito Amor
Amor Muito Amor
Amor Muito Amor

Agora vamos todos juntos gritar com as mãos ao céu
E caso você tenha alguém ao seu lado
que em sua vida represente mel
Fale baixo, com carinho e delicadeza

Amor Muito Amor


///////////////////////////////



Para ler o livro completo, copie e cole o link abaixo na caixa de seu navegador:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ooutroladodoolhoonline

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cheiro

Cheiro

As batidas de meu coração
Tem pressa de correr
Amável
Para seu cheiro
Seu afago.

/////////////

Poema inédito 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sublime - poema de Tassiano Simões 'O Livro das Iluminações'

Sublime

Cuidado com a voz suave que tenta lhe evangelizar.
Cuidado com a voz gutural e inquisitória 
que vem lhe evangelizar.
Cuidado com os mestres guias cultos narcisos.

A voz de Deus é Sublime

Canta sobre os telhados 
Sobre qualquer vime.
Nos bicos dos passarinhos afinados.
Adentra frestas e janelas
Correndo fácil 
Sendo vento.
Persegue iluminar 
Todos os buracos
Como raios de luz solar.
Preenche todos os cantos e lados
Toma conta do todo em cada átomo
Comunica-se melhor quando você está silenciado.

O silêncio é a Sua voz

Os ruídos dignos e infindos da natureza
É Ele ditando Suas certezas.

Escolha um professor que saiba ouvir seu lado.

Ele lhe ensinará tanto ou mais, calado.


///////////////////////////////






Para ler o livro completo, copie e cole o link abaixo no seu navegador:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/tassiano_sim__es_-_o_livro_das_ilum

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Poder. - poema do livro 'O outro lado do olho'

Poder.

Eu posso
Não poço.

////////////////////////


Copie e cole o link abaixo para ler o livro completo em e-book:
http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ooutroladodoolhoonline


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Vocação e entrega - conto do livro 'afetos, abismos & engenharias'

Vocação e entrega

Na íris do pai, nos braços da mãe de alongado sorriso, Kátia nasceu em um sábado. Sua avó, Ofélia, levou o padre para batizá-la ainda recém-nascida. Sua mãe, que já tinha caído em todos os buracos da vida e recuperou-se quando encontrou Jesus, aprovou a ideia de sua sogra.  O pai de Kátia não desagradava sua mãe, Ofélia. Então, em nome de Jesus, ainda no hospital, Kátia foi batizada no domingo.
Aos sete anos, quando brincava com seus amiguinhos e amiguinhas na terra batida do colégio público que estudava, viu um homem do outro lado da grade chamando seu nome. Ele tinha uma voz suave como uma brisa que vem reconfortar o calor solar matutino. Ela atravessou o pátio do colégio, foi até a grade e sorriu para o homem. Ela deu a mão, cheia de confiança em seus olhos, através da grade, para o desconhecido. O homem de voz suave tocou a mão infantil e delicada de Kátia. Ela sentiu em seu peito, mesmo sem entender bem o que sentia, um palpitar vibrante e iluminador. Kátia, vem pra fila! A professora chamou a garota do outro lado do pátio. A recreação havia acabado. No resto daquele dia, Kátia ficaria cheirando o odor único e balsâmico que ficou em suas mãos, depois de tocá-la nas mãos do homem que foi visitá-la no colégio.
Aos doze anos, quando já tinha menstruado, sempre sonhava com a cena de sua infância que ainda não esquecera. Kátia acordava suada e trêmula, e essas imagens repetidas na sua cabeça invadiam a sua realidade. Os seus sonhos traziam imagens decoradas e que permeavam os seus dias com frequência: a mão máscula e mais velha, tocando a sua mão. Um homem que vestia uma roupa branca, sem sujeiras e com cheiro agradável. Era uma camisa parecendo uma bata e uma calça visivelmente de algodão. Ele estava de pés descalços. Ele tinha uma boca tranquila, de onde saía, quase como música, o seu nome “Kátia”, como um chamado áureo e acolhedor.
Quando Kátia já tinha 15, viu o homem novamente. E, assim, voltou à sua memória o dia em que, pela primeira vez, ele apareceu à sua frente. Era verdade. Aquele cheiro, aquela voz, a visão não era um sonho. Nesse dia, ela viu bem de perto seus olhos castanhos e sua pele branca, porém rosada nas bochechas magras. Uma boca nem muito grande, nem muito pequena. O peito cabeludo era bem visível. Suas mãos eram grandes e fortes. Másculas. Tinha pelo menos um metro e oitenta, ou mais. Diferente da barriga de seu pai, que se conformava e acolchoava-se no terno cinza do culto de domingo, o homem era visivelmente magro e até atlético, como se andasse muito por aí.
Ela estava no parque com suas amigas esperando os colegas de colégio. Entre esses colegas, um seria seu primeiro namorado, se não fosse esse reencontro. O homem retornou aos olhos de Kátia e sua voz veio junto chamando-a. O tom da voz veio leve e suave percorrendo o que chamamos de vácuo, ou vazio, quase como uma borboleta, espalhando beleza e suavidade pelo ar:
_Kátia... – ele chamou-a.
Kátia novamente sentiu a sensação de quando era criancinha em seu colégio. Disse às amigas que iria procurar um banheiro, e quando Rosa ofereceu-se para ir junto, achando que as duas iriam futricar e paquerar pelo caminho, Kátia negou a companhia:
_Rosinha, preciso ir sozinha. Meu pai, em seu último sermão, na igreja da comunidade, disse que temos que encontrar sozinhos as trilhas de nossa vida.
_O que isso tem a ver? – perguntou Rosinha, sorrindo, com seu jeans esperto.
_Se você lesse mais o Livro, entenderia – disse Kátia, com sua longa e bordada saia, apontando para uma frase que estava na grade metálica da roda-gigante: Leia a Bíblia que aprenderás a realmente ler!
Kátia não foi ao banheiro, desviou no caminho e foi até o canto sombreado onde estava o homem que povoava seus sonhos com frequência.
_Oi.
Ele não diz nada. Sorri e pega no cabelo de Kátia, como se fosse fazer cafuné. Kátia ficou vermelha e deixou que o homem lhe fosse carinhoso.
_É você mesmo? Eu te vi quando era bem pequenina. E sempre sonhei com você. Achei que era um sonho ou alguma visão minha...
Antes que Kátia continuasse sua fala, ele encostou-se e cheirou seu pescoço, por baixo de sua orelha. Depois de um momento cheirando-a, olhou novamente para o rosto delicado e os olhos juvenis de Kátia, e sorriu como se estivesse aprovado o cheiro. E, a fim de saber qual era o sabor do sal no suor da pele virgem e delicada da menina, roçou seus lábios suavemente nos lábios de Kátia, indo seguidamente para o tórax dela, enlaçando-a pela cintura e encostando o corpo da menina no seu. Kátia não reagiu, confirmou que ele realmente tinha o cheiro agradável que ela sentia em seus sonhos e que se apresentava em suas lembranças olfativas. Ela colocou de lado sua cabeça, quase encostando sua orelha no ombro dele, e puxou seu cabelo, do outro lado do ombro, para cima, como se abrisse espaço para que ele a beijasse mais. Nesse momento, ele já não a beijava nem a cheirava, começou a proferir palavras divinas em seu ouvido. Kátia fechou seus olhos, ouviu com atenção. Mordendo os lábios.
Depois da conversa e dos toques íntimos com o homem, ela voltou para o grupo de amigas e disse, com os lábios iluminados de felicidade, que tinha de ir para casa! Aquela noite, que seria a sua primeira noite com seu primeiro amor na roda-gigante que tinha a frase sobre a importância da Bíblia na vida das pessoas, não foi mais essa noite. O homem escolheu e mudou o destino de Kátia.
      Com 17 anos, Kátia estava tomando as aulas de iniciante do Convento das irmãs Virgens Marias e devotas do senhor Jesus. E esse caminho foi escolhido dois anos antes, numa noite em que ela chegou do parque e disse ao seu pai a decisão que tinha tomado para sua vida. Seu pai que era devoto de outra igreja, não gostou de início, mas, para não se contradizer em relação às suas falas sobre “caminhos e intenções”, apoiou a escolha santa de sua filha.
_Eu te garanto, meu pai, que uma luz, acompanhado de uma voz suave, iluminou para mim esse caminho! – afirmava Kátia ao pai na época que tomou a decisão.
Sua mãe e sua avó, Ofélia, não apoiaram, mas reduziram-se à ideia social de que quem manda e toma as decisões finais na casa é o marido. Ofélia, que ainda tentava, por dentro das paredes da casa daquela família, conseguir moldar seu filho e sua neta, faleceu dormindo. Com isso, a mãe de Kátia não teve forças e realmente se conformou com a realidade. Entregou a filha para o senhor Jesus.
_Querida, ela começará nesse caminho, mas vai terminar fazendo sermões ao meu lado. Os caminhos são tortos, mas o senhor Jesus e Deus fazem o fim ser justo – dizia o pai, acalmando a mãe.
      Com 18 anos, com méritos, Kátia formou-se em seu curso e tornou-se mais uma freira. Mas, antes do título de sua vida ser exposto em formato de véu, participou, na igreja Nossa Senhora Aparecida, do seu matrimônio obrigatório com Jesus. Ela e mais nove virgens consagraram-se e casaram-se com ele. A cerimônia, à base de muita oração, santos cânticos e nenhum luxo, durou uma hora. Logo após, Kátia sorria com lágrimas nos olhos e felicidade no coração, despedindo-se de seu pai e sua mãe.
A partir de hoje, ela ficará confinada no convento por 10 anos, até terminar sua vigília inicial pelo corpo, sangue e sacrifício de seu marido, digo, de Jesus Cristo.
      Na primeira noite no convento, rezou mais de três horas com suas irmãs pelos melindrados da terra. Orou sozinha por mais uma hora pelo seu pai e sua mãe. Pediu que eles fossem fortes e felizes, pois ela estava onde queria. Pediu, como uma esposa recém-casada pede ao marido, que seus pais fossem resguardados na eterna misericórdia de Deus. Jantou uma sopa morna e que estava muito boa. Alimentou-se uma vez apenas, dois pratos é sinal de gula. Às 21 horas, foi para seu dormitório. A madre irmã Lucinda a levou.
_Aqui será onde você vai passar maior parte do tempo. Esta é a primeira e última vez que trago você para o quarto. As portas se fecham às 21 e 15 e se abrem às 8 da manhã, em ponto. Durante esse período, tente dormir no máximo seis horas e, no restante do tempo, estude a Bíblia e reze pelos condenados da terra.
_Tudo bem – disse Kátia, contente com o início de sua jornada.
Antes que irmã Lucinda saísse, Kátia lhe fez uma pergunta:
_Irmã Lucinda, por que esta é a última vez que me traz ao meu quarto? Não compreendi. O que quis dizer com isso?
_Somos proibidas de entrar no quarto das outras. Agora somos todas casadas com o senhor Jesus e vivemos para rezar para as pessoas que não nasceram abastardas nessa vida e estão esquecidas pelo mundo.
_Não entendi ainda...
_Não tem o que entender. Está na hora de fechar o seu quarto. Dedique-se à sua fé. Você não precisa de nenhuma de nós em seu quarto durante a noite, nem durante o dia. Este é seu espaço pessoal. Aqui nos falaremos apenas nas refeições e no ensaio do coral da igreja. No resto do seu tempo, dedique-se às suas orações e ao senhor Jesus. Lembre-se: não existe espessura de portas e paredes para o nosso senhor Jesus! Ele e seu pai, Deus, estão em todos os cantos, onipresentes.
Kátia, em sua inocência, ainda não compreendera por que tais restrições, mas preferiu não aporrinhar ainda mais a sua madre superior. E, além do mais, adorou o tempo que teria à sós com ele.
      Quando Kátia estava trancada em seu quarto e deitada à sua cama, ele reapareceu. O homem que desde os seus sete anos aparecia de tempos em tempos em sua vida. Kátia, dessa vez, observou-o com olhos de mulher, apesar da pureza ainda estar inquebrável entre suas pernas.
Em um quarto sem janelas, a voz dele produziu aquela brisa suave que desde a sua infância a persegue:
_Hoje, Kátia, sacramentaremos o nosso casamento.
_Estou pronta para você, meu Senhor, desde que me entendo por gente. Estou pronta hoje, amanhã e sempre.
_Eu sei. Até que a morte nos separe – ele diz, sorrindo delicadamente. – Não tire sua roupa. Abaixe apenas a sua parte de baixo da roupa e deite-se de costas.
Kátia obedeceu e, feliz, deitou-se de costas.
_Levante a sua saia até a cintura e abra um pouco as pernas.
Kátia obedeceu com vontade suprema. Ele continuou sua fala:

_Lindo. Belo. Exuberante. Cabeludo como eu amo, Kátia! Entre a dor e o amor, existe a paixão, por isso você está aqui. Hoje é apenas a primeira vez da sua peregrinação de fé e do nosso matrimônio. Fico feliz por nós, Kátia. Vamos movimentar a vida, como uma verdadeira forma de milagre e entrega – ele diz, cheio de sabedoria, nu e ereto, indo na direção da mais nova e mais feliz freira do convento.

/////////////////////////



Para ler outras histórias do livro no e-book em miniatura, cole e copie o link abaixo:
http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ebookminiaturaafetosabismosengenhar

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Martinha e Fidel - conto do livro 'afetos, abismos & engenharias'

Martinha e Fidel

Marta estava casada com Fidélis há 69 anos. Uma linda história de amor. Mas, naquela manhã de verão clara, densa e quente, Marta, já com seus 88 anos, não acordou no horário costumeiro de seis e meia. Seu grande amor Fidélis, que ao lado dormia, não percebeu.
Fidélis não percebeu que Marta não foi ao banheiro com sua bexiga cheia, vazando gotas. Não percebeu que ela não abriu a porta e a janela do quarto, clareando um pouco o ninho de amor. E que ela não veio até ele e acariciou sua face com todo afeto e carinho, que manhãs como essa merecem.
Ela não disse:
 _Bom dia, Fidel – com a voz branda e costumeira.
Às sete e meia da manhã, Fidélis, que sempre abria os olhos vagarosamente brigando com a claridade matutina, despertou com uma leve escuridão em seu quarto, como se a escuridão fosse um anjo que o esperasse acordar para sombrear e nomear o momento de seu novo amanhecer como “o fim dos seus sonhos”.
Fidélis levanta-se e vai até o banheiro, ainda zonzo de sono. Lava o rosto, faz gargarejo e coloca sua dentadura. Vai até a janela e abre-a.
_Martinha, você ainda dorme? – nada de resposta.
Fidélis fica em pé de frente à sua janela observando Marta, que ainda estava deitada na posição habitual de seu melhor sono: de lado, com duas almofadas, uma entre as pernas e outra na cabeça. Marta, de olhos fechados, era a perfeição que o acompanhou por 69 anos. Ela era a sua grande parceira, amiga, namorada, amante, esposa, e, às vezes, até inimiga íntima. Por isso, dormir com ela não era só muito bom, mas também acolhedor e essencial para que a vida de Fidélis tivesse sentido. E Fidel, como era chamado por Marta, afirmava isso aos amigos:
_Ela é o ar que não pode faltar aos meus pulmões!
Fidélis, com um misto de preocupação e carinho, aproximou-se de sua amada:
_Martinha! Martinha! Marta! – mesmo sem seus óculos, percebeu que ela estava quieta e calada demais. Ela sempre teve o sono leve, não é possível que não me ouviu. Pensou.
Quando Fidélis a tocou, Marta estava fria. Gélida.
Fidélis, primeiro, ficou pálido e de pé, em silêncio, ficou observando-a por cinco minutos. Depois caminhou para o outro lado da cama e sentou ao lado de sua amada e a fez cafuné. Com os olhos bem abertos, flamejantes e vidrados no seu grande amor, ele chorou copiosamente. Primeiro seu choro era mudo, depois se juntou a gemidos de dor e babas de desespero.
Pobre Fidélis, um dia antes do acontecido, depois de entregar uns exames de sua condição física ao médico, ouviu:
_Senhor Fidélis, avise à senhora sua esposa que a sua saúde vai de vento em polpa, vocês têm mais dez, vinte, trinta anos juntos – o médico afirmava a Fidélis. Mas essa afirmação, hoje, era motivo de dor. Ele queria ir com ela.
Já de pé, olhando para seus olhos no espelho do quarto, ele recordou-se o quanto Marta era vaidosa: ela sabia cuidar de sua beleza e de sua vida como ninguém. Por isso, até na hora de partir, vai-se linda, sorridente, vibrante. Luz. Fidélis dizia a si já mirando suas vistas para ela.
Assim, ele apegou-se no que decidiu.
Nesse dia, Fidélis saiu para dar sua caminhada matinal. Um pouco atrasado, mas foi. Bebeu a água de coco que tanto eles adoravam, dessa vez sem a companhia de Marta. Em casa, mais tarde, ele preparou o almoço, como sempre fez em ocasiões especiais. Botou a mesa para dois. A quantidade de comida era exatamente para dois. Depois da polenta pronta, prato preferido do casal e que representava a vida feliz que eles tiveram em família, Fidélis colocou sua comida no prato e foi comer na cama, ao lado dela. Bela. Imponente. Morta.
_Só uma pessoa boa como você, Marta, falece dormindo sem sentir dor e peso algum da morte. E, ainda depois do ocorrido, fica sorridente, branda em todos os detalhes – Fidélis falava sozinho, observando que sua amada estava com os lábios no ponto do riso. 
Sem muito apetite, Fidélis não passou da quinta garfada em seu prato de comida. Seu coração marejava e sondava muitas possibilidades que ele poderia escolher para seguir sua vida. Mas seu arrebatamento pelo cadáver de sua esposa e pelo que tinha vivido ao lado dela foi mais forte, então ele escolheu segui-la. Mesmo recordando que deixaria seus três filhos, oito netos e quatro bisnetos.
_Mas o que fazer? Eles já são autossuficientes e mais que proprietários de suas vidas – ele raciocinou e disse a si, dando um veredicto.
Fidélis deitou-se ao lado de sua amada, começou a sentir seu coração, que gritava por dentro, como se existisse mil Fidélis internos gritando para ele ir com Marta.
_Mas, o que fazer? Matar-me? – ele indagava-se.
Fidélis nunca faria isso, e se fizesse, Marta não lhe perdoaria.
_O que fazer? O maldito do médico me deu saúde “eterna”. Grande calhorda risonho.
Depois de um dia prostrado e deitado ao lado de sua amada, pensativo sobre o assunto e desejando mais do que tudo o fardo, ou melhor, o presente de ir com ela, seu coração sente uma pontada. A pontada veio como se Deus estivesse apertando com o dedo indicador o coração de Fidélis, ajudando-o em seu desejo. Ele percebe que, enfim, a vida realmente irá lhe devolver todo o seu esforço por ter sido um homem bom, leal aos princípios do bem. Um homem digno. Ele vai poder ir com sua “Martinha”.
_Estou sentindo aqui dentro que logo nos veremos, Martinha. Meu coração está em comunicação direta com Deus e diz a Ele que quero ir, Martinha. Só me levantarei dessa cama, minha Martinha, depois que eu for com você. Minha saúde só é digna de vida quando seu sorriso exala som e gracejos pra mim. Minha saúde só merece estar bem quando tenho a sua beleza ao meu lado, a sua pessoa amiga ao meu lado. Não consigo e não quero viver sem a sua linda mão apertando a minha, Martinha. Minha vida é um abismo quando estás morta e deitada aqui agora enquanto eu ainda pereço vivo. Leve-me, Marta! Deus, manda a morte para mim como um anjo salvador! – Fidélis proferia as palavras, vezes gritando, vezes resmungando, vezes chorando...
Já era noite adentro. Fidélis realmente começou a sentir pontadas em seu coração e uma pequena falta de ar. Ele estava à beira de um colapso. Por dentro, ele sentia um buraco negro que tinha dentes famintos em suas beiradas. O buraco esfomeado triturava cada parte de seu corpo. Era isso que ele queria e orava pedindo. Era isso o que Deus enviava-lhe. A tristeza era ordem e regra em Fidélis. O cadáver de Marta já exalava odores incomodativos. O cadáver estava mais branco. Mais frio. Menos riso. Mais morto. E isso contribuiu para Fidélis chorar mais, afundar-se mais no desejo de morrer.
De madrugada, já perto do amanhecer do dia seguinte, Fidélis desmaiou ao lado de Marta.

Já se tinha ido dois dias e ninguém atendia ao telefone que tocava dentro da casa do casal de velhinhos. Seus filhos e netos estavam preocupados, pois Marta e Fidélis moravam na praia e o resto de sua família em outra cidade. Alguns de seus parentes, um filho e dois netos, vieram até a cidade onde eles moravam para averiguar tal sumiço. A vizinha disse que já bate à porta há dois dias e ninguém atende.
_Ontem à noite, quando ventava mais forte, senti um cheiro estranho. Pensei em chamar a polícia, mas pode ser que eles nem estejam aí – disse a vizinha ao filho do casal.
O filho mais velho de Fidélis agradece à vizinha e diz que chamará, sim, a polícia para arrombar a porta da casa de seus pais, já que os portões eram feitos de aço da melhor qualidade. Os netos, sem paciência de esperar a polícia, dão um jeito e arrombam a porta sem pedir licença...

Fidélis estava com Marta caminhando pela praia, procurando estrelas-do-mar, molhando os pés nas ondas salgadas e dando nome às nuvens. Mas um cheiro de hospital invade suas narinas. Fidélis abre os olhos e assusta-se ao se deparar com um quarto de hospital, o seu médico, seu filho e seus netos sorrindo porque o “grande pai” abriu os olhos, mostrando-se realmente um homem de saúde. Assim como seu médico havia também confirmado aos seus parentes.
Porém, Fidélis estava deitado numa cama de hospital, com o corpo 100% paralisado, sem poder comunicar-se, dependendo da boa vontade alheia e entendendo que tinha virado um vegetal. Ele compreendia a situação por inteiro, podia ouvir e enxergar, mas sem poder mexer-se ou dizer qualquer coisa. Preso por dentro, Fidélis chora. Realmente Marta foi-se, só. E ele talvez tivesse que viver ali prostrado por mais dez, vinte, trinta anos. Como um prêmio, como uma amostra e merecimento por ser tão bom e um homem de bem por toda vida.
_Ele é a resistência e a sobrevivência em pessoa – disse o satisfeito médico a todos os presentes no quarto.
Um padre entra no quarto e diz:
_Vim rezar pelo seu Fidélis. Um dos melhores e mais corretos homens que já conheci em vida.

Melancólico, desgostoso, Fidélis implorava a Deus e pedia pela sua morte. Pelo amor de Deus, eu sou merecedor! Eu mereço morrer e ir com Marta. Leve-me! Gritava dentro de sua cabeça.                          

////////////////////////////


Para ler outras histórias do livro no e-book em miniatura, cole e copie o link abaixo:
http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/ebookminiaturaafetosabismosengenhar