segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Três poemas do livro Canibaversos


Três poemas do livro Canibaversos


Semana

Saborear comoção
na segunda-feira
cura solidão.

Minha preguiça
come terça-feira
e espreguiça.

Minha vida
toda quarta-feira
se multiplica.

Minha língua
traduz quinta-feira
você inteira.

Meu humor
toda sexta-feira
fica beija-flor.

Meu afago
pede sábado
bife acebolado.

A liberdade
todo domingo
permanece sorrindo.





Transformação

         chuva
       cai
apressada
mas
                  é lento
                                 que
                        seus
                                 pingos
                             transformam
                                o movimento





Fim de tarde caramelada

Para Tony


Num fim de tarde
que não tarda, arde
uma tristeza em febril firmeza
que não parece, mas sabe
paira em desarmas e entraves.
O sol desce sem alarde
como crônica sem mecânica
todo saudade e amor
armando seu caminho
para se pôr.
É sua forma de amar a descida
sem precisar flutuar.
Sol só precisa amarelar 
e estrelar cheio de luz e vida.

O cachorro corre dum lado
pro outro, late.
Corre como se quisesse
alcançar a verdade.
Uiva, bate-se nos cactos
suspensos do jardim
extenso, intenso
em nós         sem fim.

Reluz de sua pele marrom
cheirosa
uma luz neon
e acintosa
espalhando ritmo e som.

Ele vem ao meu lado
como se fosse falar algo
e entendesse cada passo
de meu cadafalso.
Mas não fala e não late.

Seus olhos são mel
dedicado e delicado.

Sentado, cão e educado
respirando e intacto
compassadamente
sem conspiração, ele fala
sem qualquer artimanha
ou máscara.
Sonoras notas solares
confluem beleza
o sol e meu ouvido percebem
a sua voz vermelha.

E, no fim da tarde caramelada
conversamos infindos.