segunda-feira, 17 de junho de 2013

O livro 'Narrativas do horror cotidiano' está online.

O livro Narrativas do horror cotidiano, está online. Você ler ou baixa neste link:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/narrativasonline



  



Suspense. Prazer. Horror. Paixão. Humor negro. Amor. Fome. Sadismo... Fazem parte da receita das ‘Narrativas do horror cotidiano’, o meu segundo livro de contos. 

Em ‘De onde nascem os demônios?’, o personagem principal descobre-se em uma insana mudança de hábito, trocando o doce aroma das “maçãs” por uma súbita admiração pelos odores mais putrefatos que conhecemos. Esse fato o guiará para uma mudança radical em sua alma, fome e estilo de vida.

Na história ‘A cama perfumada’, os patrões Ângelus e Margarida trazem a adolescente Rosa do seu interior para trabalhar como doméstica na cidade grande. Mas o envolvimento dos três sai do campo profissional e entra em uma redoma de comportamentos predatórios, doentios e sádicos.

E, por fim, a história ‘Beleza interior’, que conta a enigmática vida de Charles, homem que se torna conhecido em todo Brasil por causa de seu nascimento milagroso e sua fama meteórica. A história apresenta Charles pelo passado doentio de sua família e seu comportamento presunçoso e “evoluído” diante de sua dádiva-vida. 

Boa leitura!
                                                                                                                             


Meu primeiro livro de contos, Imagine alguém te olhando do escuro, está online para ler e baixar.

Meu primeiro livro de contos, Imagine alguém te olhando do escuro,  está online para ler e baixar.
Neste link:

http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/imagineonline



Dois contos do livro:

A miséria come a cabeça

Chico ficava em casa, muito magro e de fala devagar, preferia revistas pornôs e quadrinhos rasgados. Pedro, mais forte, mais alto, mais inteligente, queixava-se sempre ao seu irmão:
_Chico, todo dia é a mesma coisa. De madruga é essa frieira toda. O cigarro de palha acaba antes do vento parar. Tem uma hora da madrugada em que o vento para. Aí a gente dorme. Desperta com o galo Frei. Ainda está escuro e você, o protegido do papai, só porque ainda tem 11 anos, vai ver putaria e ler essas histórias babacas que não têm nem fim, a maioria tá rasgada. Disso, vou pra roça, labuto o dia todo. O pai me trata como um escravo. Às vezes, até me bate com pedaço de cipó. E ainda aquele filho da puta não deixa eu fumar meu cigarro de palha. Desgraçado. A mãe morreu e deixou a gente com essa alma penada. Isso só pode ser coisa do demônio, do cão. A miséria come a cabeça da gente, deixa todo mundo mais burro.
_Pedro, o pai ama a gente. – Chico, calmo, diz ao seu irmão.
Os dois dormem. A miséria come o quarto deles. Os pés de cada um foram limpos com água de sete dias, reaproveitada. Nessa seca, tem que comer até terra, se for preciso, para sobreviver. O pai de Chico e Pedro sempre repete isso. Na cozinha, sem geladeira, algumas batatas no chão (Machado está certo). Um forno à lenha, que em alguns lugares do mundo é chique, rústico, moderno. Na sala, dois pedaços de pau. Ferramentas para obrar na roça. Uma TV em preto e branco. Um jarro redondo com revistas e quadrinhos antigos. A porta dorme entreaberta, apesar do frio. O pai gosta de ouvir o vento. Dizia o Chico para o Pedro.
Outro dia, à noite, o pai dos meninos vinha com um quilo de lagarto, carne bovina, o ouro do mês para eles. Chico saiu correndo de felicidade e abraçou o pai. Pedro esbravejou: lá vem ele com a corrupção. Pedro adora essa palavra, ouvia muito na TV, sua maior paixão. Antes que o pai entrasse em casa, ele tropeça, cai e bate a cabeça no vaso de revistas.
_Chico, o que houve? – Pedro corre até a sala e vê seu pai no chão com a cabeça sangrando. Chico sai chorando, gritando socorro. Os vizinhos vieram acudir, trouxeram rezadeira, curandeiro, chegou até ambulância, mas só depois de quatro horas, e nada deu certo. O pai morreu.
No outro dia, Chico acordou e pegou a carne que havia guardado no meio do sal. O Pedro viu e tomou a carne dele.
_Chico, você quer comer a carne? Não podemos. É a herança que o papai deixou pra gente, uma herança e lembrança. Ele foi enterrado, mas essa carne ficará como legado do pai (outra palavra da TV e que ele sabe aplicar). Vamos fazer com ela o que vi outro dia na TV. Vamos pegar aquela garrafa, botar álcool dentro, e guardar a carne. Ela vai se conservar. Vi na TV.
_Tou com fome, Pedro, minha barriga tá doendo.
_Aguente a fome, vamos comer batatas.
_O pai não fazia isso, Pedro. Eu tou com fome. – Chico diz, já chorando pela tristeza e de fome.
_O pai era um filho da puta.
Chico, revoltado, parte para cima do Pedro, como um leão muito magro e morto de fome. Pedro esmurra sua cara e, quando Chico cai ao chão, Pedro chuta-o na barriga. Da boca de Chico sai sangue.
_A miséria tá comendo sua cabeça, Pedro. Seu desgraçado!
Chico sai correndo e some.
Na estrada, pediu esmola. Tentou não entrar, mas pela fome, chupou. Cedeu. Apanhou. Com 15 anos, já em São Paulo, começou a lavar louças e limpar banheiros. Com 17, voltou para as ruas, roubou, deu, chupou, pediu, chorou, implorou, desmaiou e, como um bom humano, também sorriu. Pensou em voltar para a sua terra, não foi. Mendigo, arranjou um emprego graças a uma ONG, que futuramente iria fechar por receber verba sem licitação do governo. Voltou a trabalhar limpando banheiros. Dessa vez, mais confiante, mais vivido, mais sábio, mais gordo, barbado e com vinte e um anos, decidiu voltar para buscar uma coisa que lembrava os seus bons tempos de infância, as revistas em quadrinhos sem os finais, pois estavam com as páginas rasgadas. Chico também queria ver seu irmão Pedro, contar a ele como a miséria dominou o mundo.
Era de madrugada, aquele frio não era mais aquele frio.Estava um pouco mais quente. A roça que ele morou naquela época estava menor. Viu que seus vizinhos eram outros donos que compraram as terras dos seus vizinhos e compraram parte da roça. Chico queria fazer uma surpresa para o irmão. Entrou na casa, que dormia com a porta entreaberta, viu suas revistas no mesmo lugar. Com um sorriso no rosto, foi pegá-las. Depois de abaixar, um pedaço de pau foi batido contra sua cabeça, com a força com que abatem um gado. Era seu irmão Pedro, que assim dito, não reconheceu seu irmão Chico, diferente e calejado pelos últimos dez anos, pois sua memória foi comida pela miséria esfomeada.        


Elis ama 

Elis desligou a luz e abriu a gaveta do armário da cozinha. Segurou o martelo de chumbo, que amassa a carne para ser assada, e suspirou durante cinco segundos, até largá-lo. Depois puxou de vez a faca nova de cortar carne, que ela havia comprado na semana passada, pois a antiga ela jogou fora.
No quarto, rapidamente, botou a faca debaixo da cama e se deitou, esperando seu marido Mário, que estava terminando o banho.
_Você vai dormir nu? – pergunta Elis.
_Sim, meu amor.
_É, meu bem, é bom mesmo, está muito quente.
Mário deita-se na cama, faz alguns carinhos em sua esposa e se vira para dormir.
Rapidamente ele vai dormir, como sempre. Pensa Elis, aguardando ansiosa que Mário durma.
Depois de trinta minutos Mário começa a dar sinais de sono quase profundo. Elis, com o olhar estático, respira fundo. Devagar, pega a faca escondida debaixo da cama, bem devagar, levanta a faca e, já com os punhos fechados com força no cabo da faca, ela...
Mário levanta-se de vez e vai ao banheiro - assustando Elis, que volta a se deitar e esconder a faca rapidamente.
_O que houve, amor?
_Vou mijar – Mário, sonolento, responde.
Na volta do banheiro, no quarto, Mário abre a gaveta do armário, veste um pijama bem antigo e que Elis adora, ele volta pra cama, deita-se e rapidamente dorme.
Ele sabe que eu adoro esse pijama, nele fica lindo. Ela pensa, e começa a olhar o seu marido. Pela sexta vez desiste de matá-lo. Ela esconde novamente a faca debaixo da cama, encosta um pouco em Mário e dorme.
Três horas depois, Mário levanta-se, vai ao banheiro e volta com a antiga faca de cortar carnes, que ele falou para Elis jogar fora e comprar uma nova. Mário deita-se bem devagar ao lado de Elis, com a intenção de não acordar a esposa, e, com os punhos bem apertados, segurando no cabo da faca, enfia com força e sem pudor nas costas de Elis a ponta enferrujada da faca antiga.

sábado, 8 de junho de 2013

Desigual, meu segundo livro de poemas. Lançado em junho de 2012 no Salipi (Salão do livro do Piauí)

Meu segundo livro de poemas está online para ler e baixar.

No link abaixo:


http://issuu.com/joseaugustosampaio/docs/livrodesigualonline/0

Poemas do livro:

A lâmina
Aos poetas

O problema está na alma
lama.

O poema não é beleza.
  É lâmina.

E, do recorte afiado
Sai meu desacato
Minha libertação efêmera.
E, das fotografias reais
Arquiteto belezas geniais.

Contudo
Todas vêm afins, assassinas e fêmeas.
Seja poesia

Seja poema.


//
O Desconstrutor

Não quero o riso fácil, cortês, ávido.
Muito menos a felicidade que espera o tempo futuro.
Prefiro o acaso e o medo
Quero o incerto, é certo
O tracejo e o alho.
Vamos temperar                                   
Entrelaçar ânsias 
Cozinhar discordâncias                             amenidades
Aromas e danças.
Fazer nossas manhãs mais profanas, ácidas laranjas.
Sem precisar de quem aceita e receita.   
Pois, se chegas até aqui esperando encontrar poemas
E temas belos, dignos de amores simétricos
Encontrarás apenas o irrequieto José e ereto.
Ou Guto, para os mais espertos.
E que sabem que vim para escrever o que penso
E o que penso pode machucar.
Darei outra chance. Feche o livro
Procure Olavo, procure Dante.
Não penso em você neste verso e nem adiante.
Não me incremento poeta, seta, para novas frentes
Ideais e metas.
Mas, se eu negar, Deus me castigará.
Já fui personagem e escrevi para grandes festas
Banhadas a vinho e palestrantes pedantes.
Porém, agora, teço meu poema sem precisar que me diga
Verbos adjetivados e elogios semelhantes. 
Não quero o riso fácil, cortês, certo.
Serei bem direto: de poeta, só tenho a vontade
E não sou adepto à harmonia no verso.
Pertence à minha pele desconstruir sem pedir licença.
Pois, mesmo que se faça ausência
Para você, não serei indireto.

//
Filho da puta
A mim e aos outros

No Bando dos Filhos da Puta
Só tem filho da puta.
Reunidos, eles riem dos outros e falam à vontade.
Não falta bebida, não falta farofa.
Calabresa tem de sobra, o assunto é fofoca.

Os outros, fofocados, assunto focado
Dão cara a tapa para um dia baterem no peito
E dizerem:
Sou do Bando dos Filhos da Puta.

//
Aos incomodados 

Prefiro ser o incômodo
Que o cômodo.
Não tenho lugar no salão de festas
E nos recitais 
Cheios de astrais.
Todas as cadeiras são de quatro patas.
Tenho três e ainda uso espadas.

Do lado de fora
Vomito
Engasgando-me perto da parede.

//
Floreios
Aos grandes poetas e seus lindos poemas revolucionários

Escrever belos poemas é muito fácil
Quando enchemos os versos de flores
Que são colhidas no dicionário.

//
Condenado

Em nove de janeiro de 2012
Cá estou
Um cifrão negativo
E entorpecido.
Escrevendo um poema
Não por pena
Ou para pôr pena
Mas por falta de competência
Com outros afazeres dos competentes.

Fora do lugar
Não em qualquer lugar
Descompassado
Sem andar
Para frente ou para trás. Inerte.
Sonhando? Sonhando.

A poesia não salva o poeta dos que não poetam.
A poesia salva a minha alma
Mas não a salva do banco, dos juros e dos carmas avulsos.