sábado, 15 de abril de 2017

Conheça a poeta Clara Lima

No bate-papo, enquanto conversávamos online pela primeira vez , a primeiro frase que Clara me escreveu foi  "escrevo alguns poeminhas". O que, de certo modo, acreditei.
Mas bastou ler alguns dos seus versos que percebi estar errado ao acreditar na modéstia dessa Poeta sensível e singular.

Os poemas falam mais que qualquer coisa que eu possa escrever sobre a escritora Clara Lima. 
Boa leitura! 



não cresças, menina,
não cresças pelo amor de todos nós.
para quê te servem as pernas
e os braços musculosos,
se com estes filetezinhos de carne
já abraças o mundo?

não cresças. não cresças
pelo amor da poesia de todos nós.

pra quê a matemática?
e a gramática, se teu balbuciar musical
já te comunica por inteira? 
se teu estar no mundo
já é por si mesmo exato? 

não cresças. basta-te com o que és: 
menina.

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seu olhar quieto e peregrino
como os camelos do Saara
nem a primavera o espanta.

seu olhar 
que habitou as fendas das rochas
de onde partem os ventos
que animam o mundo;
seu olhar alto, farto
que nunca vê tão vermelho o sangue
derramado por ódio à vida;
que sorri das revoluções;
que sabe onde vão dar os passos
dos homens vadios.

seu olhar íntimo das sinfonias
íntimo dos elementais íntimos
dos homens cegos de tanto olhar.

seu olhar às vezes cansado
às vezes vago
indecifrável sempre
que nenhum espelho o entende.


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Segundo Clara "Escrevo há muito tempo. Nunca parei para pensar nos "porquês", sempre foi algo tão natural". 
Que continue sendo natural    [:

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onde quer que estejas
nunca deixarás de ouvir os sinos
às seis da tarde.
teu dia pode correr o mais alegre,
teus amigos podem te levar
para os lugares mais festejados,
não importa:
tens um encontro com os sinos
à hora das ave-marias.

tens um encontro com tua melancolia
íntima, à boca da noite.
todos os dias 
poderás até simular alegria
(se estiver alguém a teu lado);
poderás até dizer que está tudo bem,
que não foi nada,
que foi uma lembrança passageira,
mas não saberás disfarçar...
dia nenhum saberás disfarçar,
às seis horas da tarde,
aquele pressentimento, aquela ausência,
aquela insatisfação profunda.

e assim viverás.
e assim correrão os teus dias, 
até que num dia descubras
o quanto fostes tola.
que não adiantou fugir dos sinos,
da cantiguinha sagrada,
da melancolia profunda,
às seis horas da tarde.
e esse será o dia do teu derradeiro aniversário.



Todos os poemas são de autoria de Clara Lima

"não cresças. basta-te com o que és: menina"





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