sábado, 21 de setembro de 2013

Leia "Calcinha", conto do livro "afetos, abismos & engenharias"



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Calcinha

     Para não acordar seu marido do sono profundo bem definido e inspirado, ela veste-se sem fazer barulho, ruído, e com a janela entreaberta. Pouca luz solar e habilidade no vestir já são o suficiente. Primeiro, como num ritual providenciado por inimagináveis forças superiores da beleza, ela veste sua calcinha. Uma calcinha fio dental e de algodão, mas bem confortável. Cor laranja. Transparente na frente. Depois, ela veste o resto da roupa, que não é importante nesta história.
     Indo para o trabalho, com transpirações nas intenções, em suas suaves virilhas muito bem depiladas e sem nenhuma mancha. Em um carro com ar condicionado, mas que ela prefere ir com a máquina que moderniza o frio amenizando o calor desligada. Sentindo o calor matinal. Ela segue pelas ruas asfaltadas e com as janelas abertas. Pelando no amarelado sol. Ela transpira, aspirando o dia, debaixo do astro caramelado no engarrafamento do centro da cidade. Transpira, respira, inspira, ela está viva, quer vida. Vida! Mexendo seus ombros para lá e para cá ao ritmo da felicidade e com Bob Marley soltando a voz dos autofalantes de seu carro de dois anos e que ainda tem algumas parcelas a pagar. Ela dança. Ela quer suar. Ela quer ser feliz e sua felicidade está nas gotículas liberadas pelas glândulas sudoríparas de seu maior órgão. E, se essas gotículas saírem mais precisamente em suas virilhas, seu querer será ato consumado. A intenção é exalar entre suas pernas sabores olfativos ultrassecretos. Ultrapoéticos.
Do estacionamento da empresa em que ela trabalha, passando com ênfase pela escada do prédio até a sua sala, ela faz questão de ir caminhando. Dá bom dia a todos. E todos, como é de praxe, respondem. É obrigado ser educado e bendito nos dias atuais e nos dias dantes. Esse comportamento é uma maldição do mundo? Ou uma forma natural de ser agradável? Dependendo do ambiente, ela diria a este questionamento. Com o sorriso angelical, dona, musa, equilibrista, chefa, orvalho, estrela, cadente, Ela, todos os cheiros e amores, recebe evidentemente de volta todos os seus cumprimentos.
E entre suas pernas vai consigo o motivo de sua real felicidade e harmonia.
Em uma manhã normal, ela mal se levantaria de sua cadeira, pois tem muitas obrigações e relatórios para finalizar. Mas hoje veio de cima a ordem para que os arquivos mortos que ainda estavam armazenados nos armários da sala de Arquivo Morto da empresa fossem reorganizados e digitalizados. Com um sorriso que vale por mais de três risos entusiasmados, ela pediu que sua secretária ficasse na sala aguardando-a, pois ela mesma iria até lá embaixo, no térreo, fazer o esforço físico e chato de procurar os arquivos que tinham que ser digitalizados. Tinha dias em que ela estava de tão bom humor que a sua secretária ficava grata por essas atitudes altruístas e afetuosas. E ir até o Arquivo Morto da empresa, procurar todos os papéis empoeirados e velhos que tinham que ser digitalizados, e trazer de volta para a sala, era uma tarefa cansativa e fisicamente engenhosa. A manhã dela, dando essa folga à sua secretária, foi ainda mais feliz e transpirante.
Fazer sua virilha suar era sua lei. Era sua regra. Era seu riso. Era seu dever. Era sua época. Era sua era. Era seu bálsamo. Era sua obra...
No horário do almoço, ela comeu no refeitório da empresa com os colegas de trabalho. E esse dia tudo estava ao seu alcance como providência divina. Como um estouro de cores angelicais. O ar condicionado do refeitório estava quebrado. As máquinas podem estar ao nosso lado? Com isso, os funcionários abriram as janelas para melhorar o calor do local. Mas ela fez questão de sentar o mais longe possível das janelas. E de falar bastante enquanto comia. Ela falava e mexia os braços de forma compulsiva. Seus funcionários prestavam atenção. Manda quem pode... A intenção realmente é suar o máximo possível.
Antes de retornar para o turno da tarde, onde encontraria o ar condicionado central, e isso a atrapalharia em seus planos, pois era certeza de ficar presa em sua sala a tarde toda, ela foi ao banheiro. E, trancada em uma cabine, despiu-se quase toda, pois sua calcinha ficou abaixada até a altura dos seus joelhos. E, numa posição em que não molhasse tanto a sua calcinha laranja de algodão, mas que também não deixasse de respingar sobre ela e sua perna a própria urina, com prazer, ela mijou. E desceu tudo que tinha direito. Era o líquido que tinha segurado durante toda a manhã. E esse ato ela fez de pernas esticadas e corpo dobrado, sob o vazo.
Depois da tarde de trabalho esforçando-se em pequenas atitudes e meandros para contrapor a lânguida frieza e a fina secura que o ar condicionado de sua sala oferecia contra o calor que queria sentir entre suas pernas, às dezoito horas em ponto, ela sai pela porta de sua sala. Novamente pelas escadas, vai até seu carro. No seu carro, com o ar desligado, dirige-se para a academia. Na academia, troca de roupa, mas não toma banho e nem troca a calcinha. Malha por uma hora e meia.
Seu dia já está acabando. Ela pega todas as suas coisas e sai da academia indo em direção ao carro. Anda apressada como se ainda estivesse na esteira, malhando. Breve ela chegará em casa para mais uma noite de amor com seu marido. Ela é recém casada e sabe como agradar o seu amor. E, dentro do seu carro, muito suada, lembra-se da cereja do bolo. Abre a sua bolsa e pega um cordão de bolinhas “masturbatórias”. Com cuidado e zelo, ela abaixa sua calça legging, põe de lado sua calcinha alaranjada. Introduz uma, duas, três, quatro bolinhas. As bolinhas são vermelhas e caberiam facilmente em uma caixa de fósforos. Ela deixa três bolinhas de fora. As bolinhas não ficam nem felizes nem tristes com essa exclusão. E, assim, ela veste-se e liga o carro para ir comprar o pão. Para, em seguida, ir para casa.
Quando ela chega em casa, constata que seu amor ainda não tinha chegado. Ela entra com o carro. Depois de fechar o portão, entra em casa e acende todas as luzes. Vai até a cozinha e procura algumas velas. Pega uma comida congelada no freezer e coloca no forno. Depois disso, despe-se, tira as suas bolinhas do prazer e joga sua roupa no cesto de roupa suja. Com a sua calcinha em mãos, ela vai até o seu quarto, onde dorme com o seu amor. Ela abre o zíper da almofada do seu marido e coloca a calcinha dentro dela, onde tinham outras calcinhas. Ela fecha o zíper da almofada e a coloca onde ela estava. Ela procura um papel e uma caneta. Não demora muito, ela os acha e escreve um recado para seu marido:

Com afeto, meu suor, meu odor, meu gozo, meu cheiro.
Como você sempre me pede, hoje eu coloquei mais uma calcinha dentro de sua almofada, que é pra você sonhar comigo...
Te amo!
Sua ‘cheiro’...

Depois de deixar o recado em cima da almofada de seu marido, ela segue, flutua, pluma, liberta, sobrevoa à toa para o banheiro, como as pessoas que estão amando fazem.

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 E não esqueça, se quiser encomendar o livro completo, siga as instruções da página 61 do e-book ou acesse este link:
  

Boa Leitura!!



 

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