domingo, 1 de dezembro de 2013

Toque nervoso - conto do livro 'Imagine alguém te olhando do escuro'

Toque nervoso

Já muito enfurecido, estressado, ele liga pra empresa onde Suzana trabalhava para fazer reclamações. Todos na empresa tinham pena de Suzana. Menina de bom currículo, experiente, sempre bem vestida, um pouco calada e ainda jovem.
O telefone tocava, ela atendia. O identificador de chamadas revelava: era ele. Alguns colegas iam até a sala de Suzana para tentar consolá-la. Com olhares de pena, motivação e apoio.
Como ele era o maior cliente da empresa, a chefia não se importava como a funcionária era tratada. Ela que arranjasse um jeito de lidar com isso. Se ela sair, tem outras. Assim era tratado o assunto.
Dois colegas de trabalho, que a observavam, comentam.
_E por que ela não sai?
_É porque Suzana precisa do emprego.
_Pois é, minha amiga, ela é uma guerreira. Aturar esse pedaço de ignorância tratá-la dessa forma...  Eu mandaria ele pro inferno!
A colega sentia pena. O colega, paixão e admiração. Ambos analisavam a forma que Suzana reagia ao telefone: apertava o seu punho com força, segurando o telefone. Algumas vezes cruzava as pernas e ficava com um “tique nervoso” roçando suas coxas. Talvez isso excitasse o colega dela, por isso tanta paixão. Outras vezes, Suzana mordia os lábios, parecendo que estava com vontade de arrancar a cabeça dona da voz do outro lado da linha. Outras horas, fechava os olhos como se pensasse em outro assunto, e em outros momentos sorria, parecendo que se drogava de uma alegria inventada, para esquecer a realidade.
Certo dia, depois de mais uma das conversas entre eles, Suzana desligou o telefone e foi direto para o banheiro. O seu colega tentou consolá-la, a colega tentou entrar no banheiro com ela, oferecendo apoio moral. Suzana, sem falar nada, entra no banheiro e tranca a porta. Sete minutos depois sai, com o rosto molhado e os olhos cansados.
Suzana passou o resto do dia calada. Quando deu o seu horário, saiu e foi para um ponto de ônibus diferente do habitual. Desceu na zona leste da cidade, em frente à empresa do dono da voz que tanto a maltratava. Suzana sabia que ele sempre era o último a sair.
Quando o portão abriu, Suzana o viu. Com crachá identificador do seu trabalho, ela entrou de vez na garagem. Ele levou um susto.
_Calma. Sou eu. Suzana.
Ele, já menos assustado, diz:
_Suzana?Suzana? – vendo o crachá dela, lembrou:
–Sei! Suzana, da empresa que só tem incompetente. Você é a mulher que me atende, né? Só podia ser loira, e aposto que você só trabalha lá porque é gostosa. Mas pra mim isso não muda nada e só confirma o que eu digo: você é burra, incapaz. Como é que você aparece aqui sem marcar hora, me dá um susto e ainda fica fazendo essa cara de...
_DIZ! – Suzana grita.
_Diz o que, doida?
_Me chama do que você ia chamar.
_De quê? Vagabunda? Rapariga? Ou do que te chamei hoje no telefone: sinhá puta, idiota?
_Repete, vai...

Suzana pede para ele repetir mais vezes e vai encostando, levantando a saia até aparecer sua calcinha. Ela chega perto olhando, com olhar de paixão, para os olhos dele. 

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