segunda-feira, 21 de julho de 2014

more blues & So So drugs - Poema do 'O outro lado do olho'

Dez anos do poema "more blues & So So drugs"

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more blues & So So drugs

O cinza de Salvador foi embora passageiramente.
O cinza que não deixava ninguém se ver, foi embora eternamente?
Hoje foi amarelo e um sopro.
Um vento e um estouro.
Esquecido.
Amarelo brilhante, cor de vida e sorriso seco. Moído.
Não teve calor.
O sopro sabe fazer egos amarrarem-se e aos agitos flutuarem.
Na Avenida Bonocô, vi uma escada nova.
A escada leva o povo de dois pés para cima.
Para perto de Deus. A escada servirá para a periferia e a classe média.
O povo manda agradecer a Deus e à condolência dos políticos pela escada (mesmo sem métrica).
O povo agradece a obrigação do pedreiro e seu mestre de obras.
A obrigação do cimento e sua pouca água.
O cimento pede mais adesivos, mais esforço menos culpa e uma escada Meu Deus, pra chegar ao céu.
Agora é obrigação dos pés moerem o cimento impregnado
Sustentado de água e suor impostos e terceirizações.
Precisamos de escadas, elétricas escadas.
Mas neste caso é preciso um ar condicionado e mais degraus e versos Sinceros.
É preciso mais artigos cor de anil, um céu azul, verde, amarelo.
Quando o ano é de copa, sou Brasil. 
Não conheço São Paulo, Rio.                           
Mas estive seco, profundamente seco e morri nas águas do Velho Chico.
Nunca estive em Brasília;
E o cheiro do mijo escondido, misturado, espalhado pela minha roupa
De bêbado, me traz outro assunto, que passa pelo meu nariz sujo
Dente cariado
Sapato velho estragado.
Vou andando sem ter noção do tempo.  
Se foi ontem                         se foi hoje                                         ou nunca será?
Quero mais cores, mais tendências e mais moda que se combinem
Multipliquem-se, invertam-se ligeiramente pelas estações.  
Moda, moda, moda, moda, moda, moda, moda.
Não demora e o dia passa, outra noite, outra vez chuva
(não foi eternamente)                                             nada diferente.
A não ser pelo pedido de todos:
more blues & So So drugs.
As prostitutas bebem vinho e espalham a ordem de pernas abertas.
A cidade bebe vinho e esculpe a ordem de ruas abertas.          
Dentro do banheiro público, mais mijos e segredos guardados
A sete chaves.
Mijo mais. Mijo amarelado                      embriagado.
No meio da rua, pedras conversam, falam sobre segredos.
No meio da rua, todo mundo conversa, esconde segredos.
As pedras falam sobre os nossos segredos, eu ouvi.
As pedras não ficam no mesmo lugar, eu vi.
Caminham seguradas pelas nossas mãos
Nossas máquinas
Nossos políticos, nosso progresso
Nossos senhores de engenho.
Que ainda existem sem engenho, mas com engenhocas.
No pelourinho, muito negro e muita polícia.
Nostalgia em Salvador?
No Pelourinho, MPB, sexo e as prostitutas continuam impregnando
A sua ordem.
São pedidos mais banheiros públicos pelo povo.
O povo com oito patas, óctuplos.
O banheiro com oito privadas, óctuplos.
A rima rítmica descarada, óctuplos.
Mais uma vez, óctuplos.
A mãe, mãe de óctuplos.
A minha paranóia com a palavra óctuplos.
Mas, interrompendo, o Poeta vem rimando seus versos em voz alta
Sem saber nem o que fala.
Na cidade muito caos e manifestações.
E o povo clama em ordem junto às ruas:
more blues & So So drugs.
Salvador respinga refúgios e orgias
Por toda esquina tem um baleiro, uma puta
Um deitado no chão.
A cachaça que ele bebe faz sorrir igual à cachaça do gringo.
Nas ruas, filas tentam ser formadas mas as tentativas são desmascaradas.
Nos becos, e Salvador tem muitos becos, um choro chora.
Não tem canção de ninar neste horário
Ninguém usa farda, mas todos combinam o vestuário.
Os que estão fora da moda são desavisados, mas só para os estilistas.
A vida despeça e convicta faz festa em cor de rosa.
Mas só para os elitistas.
Psytrance       arrocha          lambada         afoxé              axé      pagode
Reggae           rock and roll andrugs          tudo rosa.      
Desgovernado vem o carro, mas vai parar logo à frente.
Mais um engarrafamento. Droga. Drogas.
A cidade precisa de mais engarrafamentos.
A cidade precisa de mais desordenamentos. E drogas que acalmam a alma.
A fila e os minutos perdidos conversam em paz
Enquanto nos carros o consumo é muito diazepam e cafezinho e almas Silenciadas.
Enquanto isso, em Brasília, muito calor            muito glamour.
O povo manda dizer que quer usar barba também e tá feliz com o feijão
De cada dia.
Já a classe média pede mais nostalgia, mais real.
A classe média está ficando careca.
Os jovens todos querem mais revoluções.                     Outros Che's.
Pedem mais ícones, cocaína exportada de Brasília, sexo and
more blues & So So drugs.
Tudo vai a uma ordem desgovernada, exagerada.
É pressa de não viver?
Escorrega das mãos uma nova chance, um novo delírio.
Alguém grita: "eu quero delírio, um pouco de ritmo".
Alguém precisa de você. Eu estou à disposição.
Um espelho cai bem à minha hipocrisia, a nossa.
Cai a carapuça em um sorriso dado com indignação de acusado.
Na praça muitas árvores cumprem a sua tarefa de embelezar
E dar sombras.
É pedido mais árvores e mais praças públicas.
O povo manda agradecer ao pedreiro e aos impostos pela praça.
Na rua todo mundo anda e paga sem saber.
Neste momento alguns pagam pra beber.
Na rua, todos estão mortos.
Ou só é a minha pele que esfria, apodrece?
Talvez no esgoto, os ratos sofram menos.
Ratos, baratas e vermes são eternos. Nunca apodrecem.
Eles agradecem as condolências de quem joga lixo no chão.
Os ratos, as baratas e os vermes brigam entre si
Querem mais mercados na bolsa de valores
Mais queijo, mais lixo, mais terra
E enquanto isso os computadores dormem antes de iniciar o            
Pregão.
Dentro das casas um veredicto é posto em mesa
Hoje é o dia das mentiras caírem.
Outras verdades tomarão os seus lugares.
Estão todos aqui: o gato, a pia, a mesa, a privada
A TV, Faustão, a net, Ivete.
O vizinho que nunca reclamou do barulho de madrugada
Nem do cheiro de maconha que o vento leva à sua sala.
Os entes queridos, alguns estúpidos, outros discretos, esculpidos
A barata acaba de chegar, a vida acaba de continuar
E a morte, Deus?
Este é o assunto.
Mas antes um grande e espesso pedido:
more blues & So So drugs.           
A plástica está aceita em todas as ordens.
Quando não é para a pele, seios, bundas e lábios vaginais, é  para solidão.
É para o trânsito, mesclado com um pouco de paixão
Pelo fato de mexer com o ser.
A plástica pode ser cara, barata, depende da agonia imediata.
O povo quer plásticas, os carros querem e necessitam plásticas.
O antigo é uma necessidade de plástica.
E as costas já não aguentam mais a falta de compaixão
E amor próprio.
É cinza de novo, já se passam dias e o término é o verso que diz.
Diz o que vejo todos os dias e o que sinto.
Algo imprescindível são as praças públicas, os banheiros públicos
As avenidas públicas.
As pessoas públicas.
Os poetas públicos.
Os sexos públicos.
O amor público e banal.
O rapaz que passa demonstra ser mais sexy
A mulher está muito mais sexy             roll and sexy.
A televisão espalha modernidade e aguça a sexualidade.
Uma mente um pouco deturpada desse povo que faz TV.
Mente deturpada a minha que escreve pra disfarçar a solidão.
Algo impróprio e inerente como o amor.
Algo fugaz como minha janela deste quarto entreaberta
Espalhando palavras e       sensações
Espalhando lembranças e um fino deleite de nostalgia e saudade.
Toda palavra escrita passa por mim. Toda palavra escrita passa por mim.
Passa por entre os cimentos dos prédios e as suas obrigações alheias.
Sou a árvore personificada, as pedras e seus ouvidos
                        Personificados.
Ouço tudo e executo os meus vícios em partes idôneas da minha cabeça
Pensante.
Nada contra Paul e o Blues, também sou cult.
Nada contra ao L e o T, mas prefiro o cu.
E quem sabe um dia criem uma denominação mais gostosa e brasileira Brasilês, do que cult.
Então poderei gostar do cu, sem o L e o T.
Nada contra Paul, mas prefiro o Zé. 
Nada contra a Britney, mas prefiro a Maria.
Estão construindo um metrô e novos prédios.
Salvador está se organizando, agonizando
Não vejo ninguém em suas janelas observando este fato consumível
E descritivo.
Nas favelas, muitos sorrisos e arrocha e cachaça.
Nas janelas, muitos sorrisos e bossa e cocaína (vice-versa).
Nas avenidas, uma Salvador sobrevive e continua contínua.
E, dentro de mim, uma Teresina, não Teresinha.
O coração está batendo forte, é ano de copa e sou Brasil.
Nas avenidas, explode um sertão, uma maresia, um Brasil.
Em São Paulo, as pessoas falam tão alto que ouço daqui.
Não conheço Brasília, Rio, nem o Santo Paulo
Mas em janeiro, no dia primeiro, com ou sem a copa, continuo sendo Brasileiro.
Não sei se continuo sendo Brasil.
A vida é espalhada em dores e palavras.
Gestalt me mostrou como associar vida à morte.
E tudo a meu ver continua cor de anil.
E no mundo uma nova onda pop alternativa cult assola os nossos
Dizeres:
more blues & So So drugs.
O pátio está vazio.
Os corredores com perspectivas continuadas e banheiros privados e Públicos para a população do prédio
Estão vazios.
Elevadores não dormem e estão vazios.
Não retrocedem.
Elevadores não desobedecem.
Não vejo a coruja nesta noite
Sinto em minhas costas 12 assassinos e 2 sanguessugas
A coruja está ocupada ou dorme em alguma cobertura de luxo?
Distante daqui, no vizinho, o povo faz barulho.
No prédio, além do pátio vazio que disputa com elevadores
Quem ganha o prêmio da solidão
Tem a população que é educada e prendada.
Come com três garfos, usa papel higiênico com perfume
Dorme maquiada e não perde o costume
Come meu coração, entra em outro assunto, outro cume
A fim de meu suicídio repentino.
O povo manda agradecer o silêncio neste horário
Pena que é em outro bairro.
Mas o silêncio é só neste horário, amanhã é dia de branco.
E, antes da manhã, já é hora de acordar.
Acorda, Brasil!
Acorda, Brasil!
Neste horário, relógios despertadores não tocam.
Os corredores e pátios estão silenciosos.
Estão mais centrais, ansiosos , transversais.
Nesta hora, um movimento aparenta um amor sem tento.
Nesta hora, o poeta dorme a ressaca da noite anterior.
Os elevadores, sós, obedecem.
Não dormem, não retrocedem.
O portão eletrônico trava
O computador trava, deseletricamente
Um cigarro fumado, desorganizadamente
Outro escondido
Um vício, um martírio
Sou psicopata e carrego sanguessugas e assassinos
Nas minhas costas nesta noite.
Dois cafés, alguns expressos, pornografia e um jornal online.
A política dorme no corredor do pátio do meu prédio.
Quem me dera uma fatia desse bolo.
Você também pensa assim?
O sono, neste grande teatro, tem o papel de disfarçar a falta
De vergonha na cara.
O vendedor de jornal está entorpecido, não é culpa dos políticos?
Notas musicais e muito axé.
O povo não lê jornal?
Ouve pagode.
A população lê jornal?
Mas que porra adianta lê jornal?
Matérias vendidas e publicidades ambíguas.
A própria lei esbanja retórica e é estuprada. 
A lei se come.
Sadomasoquistamente.
O povo quer lei, a população também?
Acorda, Brasil, o povo precisa de educação.
E não de corredores vazios, hipócritas.
Nesta hora da madrugada, meu coração é um corredor.
Talvez durma para poder sonhar.
Poetize para poder chorar.
Eu andrugs e sonhos           desgastados  renovados.                            Antagônicos.
A mentira é o antagonismo entre o povo e a população.
Não existe verdade única
Mas, na verdade, a população e o povo são tudo igual
Quando habitam o banheiro.
E quem disse que isso é verdade?
Sentimento e jura, viva a liberdade de expressão.
Ninguém está no elevador que não retrocede
No corredor, somos inúteis.
Ninguém diz não, diz sim de paixão. Pede mais:
more blues & So So drugs.
A cocaína, das mentiras, é a maior de todas.
Só não maior que o valor das campanhas presidenciais.
Para Senador, vote no seu grupo.
Para Deputado, não tem segundo turno.
Na câmera e no senado tem uma grande mesa de vidro. 
Nesses órgãos, é possível cheirar mentira e o cu limpar com dinheiro.
É preciso tomar cuidado para não deixar o nariz sujo
É preciso dar o pão de cada dia e o circo de cada ilusão.
É preciso saber quem inventou esse termo ‘regional’?
Estão premiando por aí pessoas que fazem algo regional.
Assimilaram regional ao norte/nordeste.
Apesar do sul, sudeste, tanto faz
Lá pra baixo é tudo igual e clichê, inclusive regional.
Como nós nordestino da peste.
Nos becos de Salvador, o arrocha ultra-mega-original, quebra e esfrega.
Quebra também o carimbó, o afoxé, o frevo.
São Luís do Maranhão nunca mais morrerá depois do                                  
Poema Sujo de                                Gullar.
A Bahia nunca mais morrerá depois de Jorge Amado.
São Paulo nunca mais morrerá depois de
João Gilberto                       Caetano.
Itapuã e o Rio nunca mais morrerão depois de Vinícius e Gil.
E eu que escrevo estes versos não darei sobrevida a nada nem a ninguém.
O pop é chulo e popularesco, o regional é chulo e popularesco
Ambos inevitáveis e desejados em cada canto e gemido.
Ambos não cheiram à mentira.
A arte pode ser cópia, mas nunca mentira.
Guarde bem isso com você.
Cada qual cheira o seu tal.
O pop está na noite e quer brilhar.
O pop é papa, idioteque, analogismo
Porém, levanto a cabeça, meu brio e deixo o trio passar.
Quem não quer ser pop?
Já se mataram todos?
Raul não é pop? É brega.
O povo precisa ouvir mais Raul Seixas.
Ao mesmo tempo que falta café, falta seda
Faltam filas e escolas
Mas erva e igrejas têm de sobra.
Em Salvador, há muitas igrejas e templos.
O mundo é azul e Deus é Blue.
O povo pede mais palavras em inglês e modas.
Uma medida estatística qualquer para alavancar sorrisos.
O povo pede cifras.
O político aguarda a urna eletrônica.
O político pede cifras. Eu quero também.
O padeiro que acaba de acordar lembra que haverá segundo turno:
“Vou votar em quem?_Tanto faz, nada vai mudar, o pão vai assar e eu vou continuar a comer, dormir, trepar e cagar e carnavalizar”
O padeiro pede cifras.
Um alguém anda sem parar no apartamento de cima
Ou estou ouvindo coisas and So So blues?
Este alguém pede cifras.
Haverá segundo turno.
E as cifras não acabaram.
Haverá terceiro turno, mas só os desavisados que não sabem.
Os desavisados avisam que estão por aqui.
Na Lapa, há muitos desavisados, drogados, putas e raimundas.
Na Lapa, só de rima, sujismunda, a política aparece em panfletos Espalhados ao chão.
Os panfletos não querem ser recolhidos.
Um poema é pensado enquanto o poeta é recolhido.
Abdico de minha neutralidade.
Há um tudo e um nada
Do resto, eu mango                                               redigo:
more blues & So So drugs.
O povo pede mais morros para construir, mais abrigos e invasões.
O povo pede mais pedaços caindo aos pedaços de madeiras
Mais caindo aos pedaços de papelões
Mais caindo aos pedaços de assistencialismo.
Nada contra essas medidas paliativas e a boa vontade das pessoas
E do governo, mas o povo pede mais madeiras caindo aos pedaços
E que guarde o lugar do seu filho na escola
(Será que o pai de família pensa assim?).
São quantos anos que o povo pede mais escolas aos pedaços
                        Que não são montados?
A verdade é que esquecemos de pedir mais escolas.
Vocês venceram com a insistência do não fazer.
O povo não tem tempo pra montar quebra-cabeça.
O povo se envergonharia de mim, pois sou hipócrita.
O povo queria estar domingo no almoço familiar e farto.
O povo faz churrasco, toma cerveja e cheira pó (?)
Samba o dia todo e à noite talvez briga, talvez sexo, talvez amor
Talvez choro de bebê, talvez Fantástico.
É Fantásticooo! O programa da família brasileira.
O programa herói.
Na TV, à frente de todos, mijo. Mijo na TV.
Homens mijam.
Homens mijam na parede.
Enquanto eu escrevo cago e mijo na cabeça de vocês.
Fui mijar no canto, não tinha espaço.
Mijo na TV a fim de queimá-la.
Bêbado, mijo nos pés de alguém
Bêbados mijam na minha cabeça e se eu deixar, vão cagar também.
Chego em casa cheirando a xixi
E, sem saber, os de casa, mijam palavrões em mim.
Na TV todo mundo está a sorrir.
Riem de mim.
Eu sou povo!
Se quer me esnobar, que seja pela frente
Pois sou daqueles que, do Cult, prefiro o cu.
Ou alguns centímetros acima em outro orifício.
Quem faz amor ou fode entre quatro paredes de forma cult e singela?
Quem pega no garfo da mesma forma que faz amor?
O grã-fino pega no garfo delicado e fode calado.
Existe um grã-fino em cada homem.
Existe um machista em cada homem.
Em cada homem existe uma menina.
Em cada homem existe um algo regional.
Pop                 transcendental          e muito mais do que estes meros versos.
Vamos, camaradas, seguir and forever and ever
Vamos, camaradas, não há o que esperar
O povo pede que clamem por eles
Vamos ao menos clamar a nós
Vamos, camaradas, ratos, baratas, formigas e vermes
Vamos todos proclamar a liberdade.
Vamos bêbados e poetas
Pois todos pedem mais
more blues & So So drugs   
Todos pedem mais
more blues & So So drugs.
Todos sofrem mais
more blues & So So drugs.
Todos riem mais
more blues & So So drugs.
Todos iludem mais
more blues & So So drugs.
Todos passageiramente
more blues & So So drugs.   
Todos em estouros esquecidos com sorrisos brilhantes aflitos
more blues & So So drugs.   
Todos que pedem uma escada para chegar perto de Deus e ficam
Firmes em suas condolências e precoces atos de medo querem
more blues & So So drugs.   
É preciso mais escadas elétricas e uma copa com bebidinhas caseiras
Outra Copa com o Brasil campeão e mais
more blues & So So drugs.   
Em São Paulo, Rio, Brasília, nas águas do Velho Chico mais
more blues & So So drugs.   
Pedem óctuplas vezes
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
more blues & So So drugs.   
As prostitutas, os fulanos e cicranas dentro do banheiro público
O polícia, o político, o viciado, o ateu, o gringo
As torcidas do Bahia e Vitória, o futebol, o marketing
O carnaval, as eleições, as noites e dias, o pensamento em branco
O nariz sujo, o poeta vagueando, o granfino transando
O espetáculo continuando, o medo surrupiando
A vida desocupando, o sujeito e o substantivo, o adjetivo
E os que precisam de adjetivos
Aqui redigo: mais vinho, Martine, pinga com limão e mel e
more blues & So So drugs.   
As pedras falam e pedem mais
more blues & So So drugs.   
Em Salvador, uma nostalgia, um fim de poema e mais
more blues & So So drugs.   
O povo clama mais
more blues & So So drugs.   
O baleiro clama mais
more blues & So So drugs.   
O chão se abre e torce pelo desastre, clama mais
more blues & So So drugs.   
A festa em cor de rosa toca psytrance arrocha lambada afoxé axé Pagode Reggae rock and roll andrugs tudo rosa e mais
more blues & So So drugs.   
A cidade precisa de mais engarrafamentos
A cidade precisa de mais desordenamentos
Mais diazepam e cafezinho, mais
more blues & So So drugs.   
A cidade precisa de mais impostos e mais pedreiros e mais
more blues & So So drugs.   
A cidade precisa iniciar o pregão e mais
more blues & So So drugs.   
É pedido mais plásticas e amor banal
É pedido que as pessoas fiquem mais sexys e mais
more blues & So So drugs.   
Aparecem cada vez mais avenue, cult, cocaine e Aurélio
E pede mais
more blues & So So drugs.   
Em Salvador, um sobrevivente, mil mortos.
Ou é a minha pele que esfria e padece podre?
Ou é meu pulmão fumaçado
E minha garganta desgraçada?
Ou é meu vício e minha desobediência?
Ou nunca vivemos e sempre fomos mortos?
Ou é Teresina que me diz viva?
Ou é o pedido que clamam:
more blues & So So drugs.   
Pedem mais sadomasoquistamente e mais e mais e mais
Repetitivamente
Repetitivamente
Repetitivamente                             
                         Repetitivamente
more blues & So So drugs.   
Os assassinos e os sanguessugas
E o povo educado e prendado
O povo aprende com os granfinos a educação e prenda
O ladrão de galinhas se irrita ao saber
Que o ladrão de colarinho pede mais e nada acontece
Eles querem mais:
more blues & So So drugs.   
Acontece do portão eletrônico travar
O computador travar
Deseletricamente    desorganizadamente um vício
Um martírio, uma pedra de crack.
E fume à vontade.
O pão de cada dia já foi dado e o circo de cada ilusão também
Tem para todos e muito mais e mais e mais e mais, acorda, Brasil!
E mais e mais e mais
more blues & So So drugs.   
Os artistas ficam em vitrines
E nos subúrbios e nas esquinas
E nos bares e na lua, os artistas escondem-se
Os artistas esqueceram a arte?
Mas não param e pedem mais
more blues & So So drugs.   
Em Salvador muitas igrejas e templos
Enquanto Deus continua Blue, cor de anil
E ninguém viu, a eleição passou?
Tudo agora cor e dor anil, para isso, tem mais
more blues & So So drugs.   
Eu vou continuar a comer, dormir, trepar, cagar, carnavalizar e pedir Mais
more blues & So So drugs.   
Mais cifras e mais
more blues & So So drugs.   
Mais desavisados, drogados, putas e Raimundas
E loucuras
E mais
more blues & So So drugs.   
É Fantásticoooo e mais
more blues & So So drugs.   
E apelo em mais
more blues & So So drugs.   
E mistura e mais
more blues & So So drugs.   
E mulheres e mais
more blues & So So drugs.   
E clichê e mais
more blues & So So drugs.   
E madrugada e mais
more blues & So So drugs.   
É vontade e mais
more blues & So So drugs.   
É mentira e mais
more blues & So So drugs.   
É vertigem e mais
more blues & So So drugs.   
Pois agora sinto overdose, embora seja passageira em mente.
Sinto uma música melancólica, um pedido não feito
Um poema pertinente.
Impertinente?
Um choro que não saiu.
Uma vida que ri e riu.
Um futuro que se perdeu, escafedeu-se, não se sabe.
Sou povo que agradece a condolência e, ainda assim, sinto vergonha
E asco de minha hipocrisia
Eu sinto vergonha, mas já a aceito bem.
Enquanto uns se despem e dormem
Outros cavam a sua própria tumba e preferem morrer.
Dentro de mim há mistura, usura, loucura.
Fora, por fora deu, um sorriso para você, independente do que sinta Quanto a isso.
Porém sinto-se-me.
Viva o Brasilês!
O céu quebra e o amor está aqui enquanto pedem mais
more blues & So So drugs.   
Enquanto leio livros e crio parte de meu circo lúdico e como meu pão
E bebo meu vinho barato, que divido com Cristo
Agradeço a condolência de minha paciência
E de sua paciência.
No outro lado, por dentro e por fora do olho
Tudo mais misturado e mais ou menos inexistente
Lisérgico.

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