quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Poema "Ser" do livro 'Desigual'

Ser
Aos meus poemas floridos, também cultivo lírios.

O homem.
Homem, aquele sentado no azulejo.
Azulejo antigo, onde rachaduras trazem as formigas comedoras de bostas do bairro e exalam um cheiro que faz cagar mole.
O homem.
Sujo de mijo.
Não o azulejo, o short que o veste.
As mãos também.
Péssimo esse hábito de não lavar as mãos.
De dizer tudo com a língua, comer tudo como formiga.
Ele.
O homem.
Grudado.
Guardado.
Aguardado?
Branco.
À tarde.
À beira de um temporal.
Acima do peso.
O homem em seus olhos sonolentos.
Vermelhos e secos.
Cabeça vazia.
Com o coração batendo sórdido.
Faltam-lhe palavras.
Sim, falta quem o ouça.
Quem pergunte?
Quem saia de dentro do seu ouvido: primeiro a língua depois a boca, depois os olhos contaminados de ferocidade, depois os cabelos, os cabelos da vagina. PENTELHOS!!! 
Vamos!
Saia deste ouvido cheio de cera.
Diga algo que se coma e não vomite.
O homem sem perguntas sobre ele.
Um falta, um espaço sem identificação de qualquer preenchimento em tal espaço.
Ele.
Sem a imagem.
Só.
Convexo.
O peso não passa duma brisa em suas costas.
Mas há alguma corrente, uma qualquer ditadura, um feto um braço, uma trava em seu corpo
pescoço
inerte
Em sua vida verte.
O homem e seus amores no reflexo do seu olho.
No reflexo formado pela luz branda e sem sentido que adentra pela janela e que se diz vinda do sol.
No reflexo brilhante e maquinário do notebook.
O homem e seu triste olho, mais sua pele odores, suas costas em dores, suas palavras em depurada amnésia.
O homem. O amém. O nem. O né. O Zé. O é...

Sendo.

Exercendo.


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