sábado, 2 de novembro de 2013

Olá, meu caro. - 2000/2010 'Três poemas do livro de João Henrique Vieira'

Os três primeiros poemas do livro de João Henrique Vieira, "Olá, meu caro".

Livro de poemas que tive o prazer de escrever o prefácio e ser um dos primeiros a ler.

E tenho o prazer de afirmar que é o melhor livro que li em Teresina de poesias. Fora o livro "tá pronto, seu lobo?" do poeta Paulo Machado, o maior poeta que essa terra já criou. E para quem não conhece, breve publicarei poemas deste livro de Paulo Machado em meu blog, com o consentimento do poeta.

Mas vamos ao nosso querido João.
Para mim poesia é liberdade, originalidade e sentimento, então sintam:






Cavidades


Eu tenho uma cabeça redonda.
Eu tenho uma cabeça redonda e duas orelhas.
Eu tenho uma cabeça redonda duas orelhas e dois 
olhos.
Eu tenho uma cabeça redonda duas orelhas
 dois olhos e um nariz.
Eu tenho um cabeça redonda duas orelhas dois olhos um nariz e uma boca.

Por isso eu penso e falo e creio subjetividades que são a matéria concreta 
[                                                                                 [de minha cabeça com todas essas cavidades.

Tenho um corpo que teima em andar para o fim
e minha cabeça, cheia de subjetividade,
me faz eterno e infinito.
Esta louca subjetividade
– podem pensar em suas cabeças – 
é coisa de minha cabeça cheia de cavidades que cheiram, que vêem, que escutam, que falam.

Estas subjetividades são o que está incrustado 
nessas cavidades, que fazem minha cabeça seguir sobre esse corpo.

Eu tenho corpo e cabeça,
sorriso e vergonha.
Tenho preguiça na cara e fogo no corpo.
Sou uma concretude que vaga na subjetividade de um espaço concreto e asfáltico.
Tenho língua e educação,
corpo, prazer, pau e poesia.

Obscenidades poéticas no vago do espaço que  [                [        ocupa e subjetiva em delírio e contemplação a concretude do espaço subjetivo que se espreita [[                               
entre os dentes do meio riso,
e aos poucos invade a solidez de outra cabeça [[   [                                        que engana o corpo,
outro corpo com cabeça redonda duas orelhas
[[  [ [                           dois olhos um nariz e uma boca.

Corpo e cabeça cheia de cavidades que me absorvem sem aperceber-se.
Corpo.
Corpo
cheio de cavidades prazerosas.


 //////////////////////


Privacidade


O lugar mais seguro do mundo
é o banheiro.
Tanto faz ficar nu
– e eu gosto.

Vejo eu mesmo
e converso comigo
– eu preso no espelho.

– e aí, como vai a vida?*

– de boa. Descobri que vou morrer, mas ainda tenho um monte de coisas a fazer. Mais pelos outros que por mim mesmo. Isso é foda, eu dou minha estadia no mundo pelo próprio mundo e ele nem me dá bom dia.

O lugar mais sagrado do mundo
é o banheiro.
Pego no meu pau e nem parece escandaloso,
canto do meu jeito e ninguém reprova.

Meu lugar é o banheiro, e chega a ser eu mesmo
– limpo ou sujo, dependendo do amigo que visita.

Tenho estado de portas abertas para o mundo
e perco a linha da estabilidade todas às vezes

Talvez me digam inteligente perdido
ou
arauto embriagado de uma geração por um triz.

Já não tenho vergonha
e canto do meu jeito,
eu canto.

Meu mundo vai ao banheiro meio imundo que 
deixei.
O mundo que vocês não sabem
é o que eu profetizo no banheiro.

– dou conselhos maravilhosos ao mundo.

Meu banheiro às vezes cheira mal,
às vezes está digno de uma trepada,
com amor,
ainda que às pressas.

Queria todo o mundo cantando e dançando no 
banheiro,
os burocratas bêbados
e o estudante poeta.
Todos desiludidos feito um disco de Belchior.
____________________________
*
cumprimento do cineasta teresinense Alan Sampaio.


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 Sexo e solidão a três


Sob a luz do mesmo poste
– embacenta como todas as noites, com lua ou sem lua,
mais ou menos vida –
que estava a luzir aquela esquina já há bastante tempo, encontraram-se na mesma hora não marcada, mas sempre pontual, Doidinho, Celinha e Lulu.

Um drogado.
Uma puta velha e viciada.
Um viado metido a besta.

Ao ver Doidinho, Celinha abre um sorriso escrachado
e com um sonoro tapa na bunda, diz pra Lulu:

– Hoje eu vou trepar e me chapar. Oh coisa boa é fuder doidona. Vem Doidinho, vem!

Lulu esgueira-se e de rabo-de-olho diz:
– Dar praquele ali... Meu cu nem treme!

Pau é pau, tudo igual, ficou duro eu engulo, disse às gargalhadas Celinha.
E fuma, lembrou-lhe Lulu.

A puta não se conteve e soltou:
– Me desculpa bicha, mas priquito é priquito. Faz milagres!

Ao cabo de meio baseado, Doidinho enfiava a mão na bunda de Celinha, enquanto Lulu passava goma no baseado de modo a lamber como se chupasse um pau. Doidinho olha e diz:

– Doido pra chupar um pau, né Luluzinha? Luis Augusto!
– Vai tomar no cu fidirrapariga!
Eu vou, mas tu não vai, zomba-lhe Doidinho.

Celinha pega o baseado e põe um peito para fora do decote.

Celinha.
Doidinho.
Noite.
Lulu e o poste.
Trepada na esquina.

Sexo e solidão a três.



Leia mais João Henrique Vieira no link:
http://olameucaro.blogspot.com.br/2013/06/ola-meu-caro-para-download.html

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