domingo, 25 de agosto de 2013

Eu vou - um dos meus poemas preferidos. Do livro "O outro lado do olho"

Eu Vou

Sou de todos os tipos
por dentro, esconderijo
por fora, acrílico.
Vivo defuntando vontade e desejo.
Eu almejo.
E peço do fundo da fila, tenho pica
sou maldita.

Sim
sou todo vivo e cisco
como de lixo
e de doenças morais, carnais e espirituais.
Sorrateiro, mastigo borboletas e roubo pêssegos alheios.

Sim
tenho todo o vício e pratico a beleza.
Sou pujança, um pedaço dentro fosco
outro pedaço fora frouxo.

Sou todo ofício
e escondo meu lado disforme.
Prefiro ver o seu lado podre e bosta.
Me tomaram a torpe
estou sem a antropofagia e sua vagina
me puseram a moral.

Sou de todas as formas
inclusive cara de pau.
Dentro e fora marola.
Fora e dentro amostra.

Meu dia são drogas e horas e voltas e portas e modas em mim
e as drogas são temperos e cafés com sal.

Sim.
Sou tudo fila ida vida
suburbano
e carros revoltosos vou.
Estou no futuro.
Acredite: o futuro é agora. Now.

Sou todo asfalto preto. O anão sem dedo. O baleiro zuadeiro. O maníaco sem dinheiro. O playboy maneiro. O romântico matreiro.

Assino a loucura e visto a clausura.
Por dentro, amargura, por fora, fissura.
Neste lugar, me pertenço e sou, vou muito mais como ser
estou.

Sou sim de todo os tipos
por dentro, morto
por fora, vivo.
Sou de toda agora
por fora, hora
por dentro, esmola.
Sou desconsolável
por dentro, afável
externo amora.
Estou desconfortável desconfiável
por dentro, rima aflora
por fora, métrica e retórica.
Sou junção
por fora, são
por dentro, não.
Sou de todos os beijos
por dentro, nódoa
por fora, cheiros.
Sou todas as ilhas
por dentro, ida
por fora, florida.
Sou todo não-conhecimento detento
por fora, cimento
por dentro, menta.
Sou todas as vestimentas
por dentro, molda
por fora, mora.
Sou a malagueta pimenta
por fora, cacho
por dentro, galho.
Sou de todos os tipos
por dentro, descontrolado
por fora, tato.
Estou à venda, é época de atacado
sou merenda
sou a fome, estou onde?
Estou José
não mais que Zé-Ninguém-Zé
sem um vintém
fuleiro e desdém.
Sou de todos os tipos:
hop hip, vixe, pop e fé
mesquinho e atrevido
ganancioso e ambíguo
pedinte e bandido
maciço e vidro
atrito e mestiço
certeza e descuido
miúdo e almeja
sorriso e bandido
vago e maléfico
cético e diabo
vil e motivo
cio e suicídio
vivo e ávido
ácido e manejo
assíduo e festejo
decadente e cópia
norma e estridente
sonho e pendente.

Sou de todos os tipos
Sou de todos os tipos
Sou de todos os tipos
Repetidos.

Sou vagalume
estou no cume e tenho vaga.
Sou uma parida vaca
afiado feito ávida faca.
Sou privada
limpa e organizada.
Sou ida e vinda.
Sou vinda e ida.
Sou de todas as formas
de todas as normas.
Sou marionete e assumo: Mate-me ou me leve.
Sou falante
e digo sem pensar, sigo a diante.
Andante.
Avante.
Sou orgia
sou sem exagero e com desejo.
E amigo & CIA.
Sou o passado.
Sou o retardado.
Estou farto
me levem para lá.
Ou não digam sobre lá.
Estou fardo em meu âmago manco.
Sou pântano
por dentro, lama
por fora, caranguejo.
Sou lampejo
por fora, fama
por dentro, receio.
Sou um tudo um.
Sou todo um todo.
Sou inércia
por fora, meta
por dentro, regra.
Sou partilha
por dentro, sinta
por fora, vida.
Sou vadio
por dentro, esperança
por fora, pujança.
Sou inveja
por fora, festa
por dentro, égua.
Sou luxo
por fora, mundo
por dentro, vulto.
Sou inquieto
por dentro, feto
por fora, sexo.
Sou reflexo
por dentro, perdido
por fora, abrigo.
Sou poeta
falo difícil(?)
lambo da loucura.
Anuncio ser tudo e todos sem cobrar.
Sim. Sou.
Eu Vou
do verbo ir
propagar que somos a mesma Poemia.

Continuo remanescente, apavoro a abundante vigência.
Mostro, provo e aprovo da hora-amora macia.



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